Ação faz parte da campanha do ‘Dia do Basta’ e conta com vídeos explicativos dos médicos André Moschetta, José Miguel Chatkin e Luiz Carlos Correa da Silva
Não bastassem os inúmeros malefícios provocados pelo tabagismo, a pandemia de Covid-19 chegou para deixar ainda mais clara a vulnerabilidade remetida à saúde do fumante. Essa relação entre a doença ocasionada pelo coronavírus e o tabaco revela uma realidade assustadora: estudos apontam que o fato de a pessoa fumar duplica as chances de adoecer por Covid e, caso desenvolva a doença, dobra também a probabilidade de adquirir uma forma mais grave da complicação – o que demanda internação e cuidados intensivos. Portanto, esse é o momento oportuno para o basta.
Pensando nisso, a Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves lembra o Dia Mundial de Combate ao Fumo (datado em 31 de maio) com o ‘Dia do Basta’. Em 2021, a campanha acolhe a ideia de disseminar informações sobre os malefícios do tabaco, incentivando os tabagistas a superarem o vício – já que a vida sem cigarro diminui exponencialmente os fatores de risco para o câncer, além de gerar disposição e qualidade de vida.
Para amplificar o alcance do tema, a entidade organizou uma pauta de conversas com médicos especialistas para alertar a população sobre os riscos do tabagismo. Os conteúdos foram gravados em vídeo e estão sendo gratuitamente enviados às empresas da região, para que possam ser replicados a seus colaboradores, criando uma rede positiva de disseminação da informação. Também é possível acessá-los pelos canais da Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves nas redes sociais (para saber mais, visite www.ligaccbg.com.br).
Um dos especialistas entrevistados é o pneumologista José Miguel Chatkin – que, entre 2019 e 2020, presidiu a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. “O ‘Dia Mundial de Combate ao Fumo’ é um encaminhamento da Organização Mundial de Saúde e, nesse ano, traz o tema “Compromisso em cessar o tabagismo”. Essa é uma frase que anda lado a lado com o lema seguido pela Liga dentro da campanha do Dia do Basta, o que se torna algo essencial em termos de conscientização”, pontua.
Chatkin pondera que interromper o vício é algo complicado. “O fumante precisa entender que a partir de determinado ponto a situação não pode mais continuar. Os malefícios são inúmeros, e a cada dia são descobertas mais situações – especialmente pela pandemia, pois existem alguns trabalhos que mostram que nessa fase em que as pessoas estão em isolamento social ou distanciadas de amigos, colegas ou familiares há uma tendência maior em fumar. Uma parcela significativa da população tem aumentado o número de cigarros consumidos”, alerta.
Formas de cessar o tabagismo
Para transformar esse momento difícil em um objetivo de conversão, a data que se aproxima é muito importante – até mesmo para lembrar que o tabaco faz muito mal inclusive para quem não fuma. Por isso, os médicos atentam para o seguimento de algumas técnicas. A primeira é a cognitivo-comportamental. “Nela, o paciente precisa reconhecer quais são os momentos de maior preocupação e pelo qual ele vai fumar para, assim, mudar o comportamento. Dessa forma, se ele fuma um cigarro às 8h da manhã e esse cigarro proporcionou uma satisfação muito grande, deve ‘classificar’ com uma nota alta (9 ou 10, por exemplo). Já se aquele das 11h30 ou das 15h for de pouca ajuda, deve receber uma nota inferior. Seguindo essa lógica, dentro de poucos dias a pessoa já consegue entender que existem cigarros mais passíveis de eliminar no dia”, explica.
Há também outra técnica, mas que consiste em interromper tudo em um único dia. “Essa é mais difícil, porém tem um percentual de assertividade bem alto. Se o paciente passar bem os primeiros dias ou semanas, a possibilidade de eliminar de vez o cigarro é considerável”, destaca. Outro ponto enfatizado por Chatkin é sobre o uso de medicamentos. “Isso também ajuda, mas os remédios precisam do start que é dado pelo sistema nervoso central do paciente. Se tiver uma disposição por parte dele, o remédio vai fortalecer a decisão, já que diminui os sintomas relacionados à dependência e aumenta o aspecto positivo”, reforça. Além disso, o ex-fumante precisa manter uma avaliação periódica, já que o cigarro libera substâncias prazerosas que se tornam porta de entrada para uma recaída. “O cigarro é um amigo traidor e infiel”, sentencia.
O que está por trás do cigarro
Especialista em Medicina do Estilo de Vida e consultor médico da Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves desde 2008, o Dr. André Moschetta lembra todas as enfermidades relacionadas ao tabagismo. “O tabaco causa perda de cabelos, catarata, mau hálito, câncer de boca, língua, estômago, traqueia, brônquios e de pulmão, cáries, escurecimento dos dentes, infarto, angina, coração cansado, AVC, derrames, demências, enfisema pulmonar, bronquite crônica, impotência sexual, envelhecimento precoce, osteoporose, enfraquecimento da musculatura e flacidez. Como médico especialista em estilo de vida, imagino a dificuldade de, ao mesmo tempo, ter consciência dos malefícios, mas não conseguir parar. Ele serve como bengala para esconder quadros depressivos. Mas será que a melhor forma de tratar não seria buscando uma ajuda real?”, indaga.
O médico indica que o fumante ‘surfe’ a onda de saúde e bem-estar gerada pela pandemia. “Alimente-se de forma saudável, exercite-se e tenha relacionamentos construtivos. Invista em sua saúde, abra a boca para pedir ajuda. O comportamento autodestrutivo só nos tira as chances de algo melhor no futuro”, sintetiza.
Já o médico pneumologista da Santa Casa de Porto Alegre, Luiz Carlos Correa da Silva, faz sua manifestação nos canais da Liga no sentido de oferecer esperança à quem está disposto em interromper o vício. “É um momento de reflexão, no qual é preciso pesar o fator pandemia e dizer não ao tabagismo, mas sim à vida”, lembra.
Os números alarmantes
Embora a porcentagem de fumantes no Brasil tenha caído de 40% para cerca de 10% da população atualmente, há indícios de aumento relacionado às questões mentais provocadas pela pandemia. Estima-se que o tabagismo é uma doença que tem relação com aproximadamente 50 enfermidades. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, o vício provoca mais de 8 milhões de mortes por ano no mundo e 157 mil somente no Brasil (o que resulta em uma média de 428 vidas interrompidas diariamente no país).